
Crônica #6: Os livros e eu
Na infância, eu lia os gibis da Turma da Mônica, já lidos pelos meus irmãos. Havia uma caixa na sala de casa e a releitura dos mesmos gibis era comum. Eram muitos.
Na adolescência, passei uma fase sem ler. Queria ser diferentona, ouvia música e só depois que reprovei a quinta série, resolvi levar os estudos a sério. Nessa época, minha irmã me deu o Se houver amanhã (1985), de Sidney Sheldon. Depois que ela lia, me entregava, eu lia e passava para frente. Assim, muitos passaram pelas minhas mãos como Juízo final (1991) e Escrito nas estrelas (1992), ambos de Sheldon (fiquei viciada nele por um tempo).
Perto do vestibular, encarei Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis, O Cortiço (1890) de Aluísio Azevedo, Iracema (1865), de José de Alencar e a lista gigante dos livros pedidos nos vestibulares.
Peguei gosto. Mais ainda quando entrei para a UMC e descobri que eu podia pegar qualquer livro da biblioteca com minha novíssima carteirinha. Tudo de graça. Meu mundinho mudou. Comecei por Gabriel Garcia Marquez, mais uma dose de Machado de Assis e fui descobrindo autoras brasileiras, romances que estavam na moda, outros que as pessoas me indicavam. Lia no ônibus, sentada ou não, lia no intervalo do almoço, em casa, onde desse certo.
Tive que trancar a faculdade, passei um tempo fora trabalhando, me distanciei de novo dos livros. Nem na biblioteca pública eu entrava. Senti muita falta. Assim que deu, voltei. Com gás total. Pegava muitos livros na biblioteca da cidade, aquela pressão de devolver em 7 dias me dava uma vontade de ler rápido, de devolver no prazo e nem pedir por dias extras.
Comecei também a comprar, dar e receber livros. Em 2009, uma época que fiz uma mudança, me forçou a rever a minha estante. A estante estava lotada. Fiz doações, vendas, dei livros de presente e trouxe comigo, somente um livro, meu bom e velho Brás Cubas.
Na nova cidade, li e conheci muitos autores novos. Autoras também! E fiz passeios por gêneros, idiomas diferentes. Resolvi voltar para a universidade. Conheci a UGA, meu paraíso, minha biblioteca particular. Consequentemente, mais livros entraram para a minha vida. Entraram e saíram na mesma velocidade. Comprava, lia, doava para a biblioteca. Era um ciclo.
Inventei uma regra. Quando não couber nesse espaço limitado na minha estante, tenho que decidir, ler e doar ou ler sem doar. Doando sempre. Para não acumular.
Hoje a minha estante está assim, essa é a foto mais recente. Alguns desses livros chegaram para mim de presente. Outros foram comprados e pretendo lê-los, assim que der, e farei doação assim que terminar as leituras.
Depois que tirei essa foto, vi que tenho uma pilha de livros que comprei no ano passado. Esses são os da “fila” dos que vou ler. Em seguida, eles vão ganhar uma casinha na biblioteca da cidade. Essa é a minha relação com os livros: empréstimo, doação, presentes, circulação. E ler muito, ler de tudo.

Image, "Estante em 2023 " (2023) by Vera Bulla
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