Estou me sentindo melhor, mais disposta. É um sentimento diferente, a dor não me sufoca, meus músculos não latejam e minha pele parece não me prender dentro de mim mesma.
Senti esse alívio depois de te visitar ontem. Fazia um tempo que não saía dessa cama de hospital. Tinha feridas, dores, fraqueza. Depois que te encontrei, percebi que os machucados do meu braço haviam sumido. Fiquei feliz, não questionei.
Durante o tempo que estive com você, lembrei da nossa infância e da alegria que sentia quando brincávamos de boneca. Recordo que você gostava de cantar. Ouvir você me remeteu a um passado sem preocupações. Sua voz ficou gravada em mim como uma lembrança de uma infância feliz e foi por isso que resolvi te visitar novamente.
Meu corpo desistiu. Lutei, quis vencer as células malígnas que insistiam em permanecer no meu sangue. Não tenho mais tempo. Vivi pouco.
Usando o último sopro, levantei e procurei pelo teu canto. Queria ouvir sua voz. Não demorou muito e te vi cantando, tentanto vencer seus próprios medos. Te vi feliz. Toquei seu cabelo. Te acordei. Você sorriu para mim.
Image: As duas (2022), by Vera Bulla
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